segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Uma história "infantil"


O trabalho infantil é uma realidade visível nos cruzamentos das ruas de grande movimento em Belo Horizonte. No centro da cidade é só parar o carro no sinal vermelho que aparece uma criança vendendo bala, outra fazendo malabarismo, mais uma se oferecendo para limpar o pára-brisa do carro, entre vários outros serviços.
Jonathan é um desses trabalhadores da rua. Todos os dias “que tem movimento” ele pega seu “rodinho” de limpar vidros dos carros e vai para o cruzamento da Rua Goitacazes com Avenida Bias Fortes trabalhar. Ele fica nesta esquina de cinco horas da tarde até meia-noite. Uma rotina maçante para um garoto de apenas doze anos.
O menino trabalha com a irmã, que não quis falar com a reportagem, e os dois são vigiados pela mãe à distância. Ela fica em uma esquina a trezentos metros observando o movimento dos filhos.
Um ponto marcante durante a entrevista neste cruzamento, foi o momento em que um policial militar passou de moto e fez ameaças a Jonathan. Avisando-o que se ele “não sumisse dali”, iria voltar para tomar o rodo das mãos dele. Este fato fez o menino demonstrar pavor e se apressar para ir embora.
Jonathan contou com aspecto de medo, que essas ameaças são constantes e que muitas vezes os policiais pegam os rodos da sua mão e quebram. De acordo com o menino, “eles fazem isso porque não querem que a gente trabalhe. Só que pra comer eu tenho que trabalhar já que minha mãe não me ensinou a roubar.”, argumentou.
Depois que esse policial passou fazendo as ameaças, Jonathan ficou durante todo o tempo falando “é melhor eu ir embora, se não eles voltam e eu fico sem meu rodinho.”, repetia o menino com medo.
Em suas palavras, Jonathan contou que tem de “fazer” no mínimo R$10 por dia para “poder voltar”. Quando questionado “voltar pra onde?”, o menino desconversou e saiu em direção aos carros oferecendo seu serviço.
Durante a entrevista ele se mostrou desconfiado e esperto, como todos que vivem na rua devem ser. E também revelou seu lado sonhador. No futuro ele espera voltar a estudar, porque sabe que precisa disso para ter uma vida melhor. Mas ao mesmo tempo não pode parar de trabalhar, pois precisa comer. O menino disse que sonha em voltar a morar com a avó, já que mora na rua com sua mãe e sua irmã. De acordo com ele, muitos primos moram na casa da avó, “e não cabe mais ninguém, por isso não moro lá.”.
Outro sonho revelado por Jonathan é o desejo de ser motorista de ônibus. Segundo ele, “os motoristas de ônibus são gente boa porque sempre buzinam pra mim.”. Enquanto acontecia a entrevista o menino não parava. Ele respondia as perguntas e logo saia perguntando aos motoristas, “vai uma lavadinha ai? E um trocado, num tem não?”, oferecia. Alguns passageiros dos ônibus também jogavam moedas pra ele. Que chegava a entrar com metade do corpo embaixo do coletivo para pegar o dinheiro.
Tudo isso que foi colocado na reportagem acima foi colhido com o gravador e a câmera desligados. Quando o botão “gravando” foi ativado, Jonathan virou-se com cara de poucos amigos e disse: “eu não preciso da sua entrevista não!”.Realmente Jonathan e nenhuma criança de rua precisa de ficar dando entrevistas. Eles precisam é de uma política social que atenda a todos os cidadãos brasileiros. Dando escola, saúde e tranqüilidade para que essas crianças possam crescer com dignidade e respeito. Sem precisar trocar a escola pelo trabalho, sem precisar trocar o carrinho pelo “rodinho” e acima de tudo, sabendo que ao chegar em casa vai ter o que comer.