quinta-feira, 3 de julho de 2008

Contrastes de um Contorno



Na época da inauguração de Belo Horizonte, final de 1897, a Avenida do Contorno chamava-se 17 de dezembro, uma referência à data em que foi estipulada a criação da nova capital de Minas Gerais. Ela nasceu com o intuito de delimitar a área central da cidade, separando o centro da região suburbana.
Nesta época um terreno na região central era vendido a preços astronômicos, o que forçava as camadas mais pobres da cidade a se refugiar nos bairros fora da Avenida do Contorno. Muitas vezes até na zona rural, conhecida atualmente como Venda Nova.
Hoje em dia essa realidade não é muito diferente, comprar uma moradia na parte de dentro da Contorno requer muitos recursos financeiros. Mas a intenção desta reportagem não é descobrir o que é mais caro ou mais barato nos lados interno ou externo da avenida.
Andei a pé os quase 12 quilômetros da Avenida do Contorno para tentar descobrir seus contrates, suas desigualdades, suas belezas e suas peculiaridades.
Comecei a caminhada no número 4 da avenida, lugar mais conhecido de todos como Terminal Rodoviário de Belo Horizonte. Localizada na região central e zona boêmia de BH, esta parte da Contorno é habitada por muitos moradores de rua, como o senhor Osvaldo, que mora com a mulher e mais dois filhos embaixo do Viaduto Hansen Araújo. Ele conta que escolheu ficar ali por ser “perto do popular (Restaurante Popular) e porque passa muita gente aqui, é mais fácil pedir dinheiro”. Como a família do senhor Osvaldo, existem muitas outras na mesma região.
Subindo o Viaduto da Floresta e chegando ao bairro de mesmo nome, fica claro o contraste, tanto social quanto visual da Avenida do Contorno. Esta região é predominantemente comercial, com supermercado, bancos, lojas de variados tipos de produtos e alguns postos de gasolina. Descendo em direção ao bairro Santa Efigênia, aparecem alguns poucos edifícios residenciais. É neste ponto que a Contorno cruza com a Avenida dos Andradas, chegando à região hospitalar.
Neste ponto o cronômetro marca 48 minutos de caminhada, o cansaço ainda não chega, mas a primeira garrafa de água já está no seu fim.
No bairro Santa Efigênia os estabelecimentos comerciais dividem espaço com clínicas, alguns hospitais e diversos edifícios comerciais.
A partir do bairro Funcionários a tarefa de percorrer a Avenida do Contorno a pé fica mais penosa. Afinal, são 1700 metros de uma subida íngreme, mas muito bela. Uma das características da Contorno é ser bastante arborizada por quase todo seu trajeto, excluindo a região central, que é cortada pelo poluído Ribeirão Arrudas.
Ao chegar no final desta subida, encontramos o ponto mais alto da Contorno, que é onde ela cruza com a Avenida Afonso Pena. Este ponto proporciona belas vistas. Olhando para baixo, avistamos a Afonso Pena cortando a região central de ponta a ponta, e ao olhar para cima, nos deparamos com a exuberante Serra do Curral.
Aqui o cansaço já começa a dominar o corpo. A forte subida mostra que 1h40min de caminhada pode levar o corpo ao limite da exaustão.
Inicio a descida do “tobogã” da Contorno, o declive é também muito forte e as pernas já respondem de maneira estranha. É possível notar que além dos prédios comerciais, nesta parte da avenida há um clima residencial. Alguns edifícios residenciais e casas chamam nossa atenção.
Ao chegar à região da Savassi, a Avenida do Contorno volta a tomar ares comerciais. Shopping, farmácias, galerias e lojas se destacam no visual. A diferença desta faixa da Contorno, para a área central é gritante. Nem parece que estamos na mesma avenida. Da Savassi ao bairro Santo Agostinho um aspecto sofisticado toma conta dela. Lojas, clínicas e colégios de alto padrão se destacam ao caminhar pela via. Na trincheira da Avenida Raja Gabaglia com Contorno o cansaço é inevitável, 2 horas de caminhada começam a pesar no corpo.
Mas a jornada já está quase no final. Descendo a Contorno até chegar ao Barro Preto a avenida volta apresentar especificidades da região central. O Ribeirão Arrudas está ali, ao lado, e a Contorno se torna, novamente, uma via exclusivamente comercial. Duas horas e quarenta e oito minutos de caminhada estão agora separados por uma rua. Chego ao número 11566, é onde a Avenida do Contorno “acaba”. A vontade é de continuar a caminhada, conhecer mais pessoas e descobrir coisas únicas deste que é um símbolo da capital mineira. Mas o corpo já não agüenta e pede descanso.